Uma escola imbuída dos ideais pedagógicos espíritas deve se diferir de tudo o que conhecemos como Pedagogia Tradicional. Na concepção de Ney Lobo (2003, p. 82-83), tal escola é aquela que:
- instaura em todas as suas atividades a Filosofia Espírita da Educação;
- torna operacional, ou seja, prática e efetiva, a Educação Espírita;
- estabelece a primazia da educação moral sobre a instrução intelectual;
- promove a fusão da escola com o lar numa unidade moral e pedagógica irrompível;
- promove a emersão das perfectibilidades espirituais dos educandos, mediante processos específicos e técnico-pedagógicos;
- estende o período de permanência do educando na escola, visando uma educação escolar em regime de tempo integral;
- institui a atividade, a cooperatividade e a individualização, um currículo centrado na educação do espírito e a disciplina sustentada pela reparação das faltas cometidas;
- mantém os fins da Educação Espírita, que são o desenvolvimento da espiritualidade na ordem individual, o melhoramento da ordem social terrena e Deus na ordem absoluta e suprema;
- estabelece o princípio administrativo da direção colegiada em todos os níveis, como a forma mais democrática de governo escolar;
- entende a avaliação da aprendizagem como o processo que tem por fim a promoção da evolução do espírito, através de sua auto-superação.
Fica claro que a escola espírita pretende trazer para a práxis pedagógica, aquilo que está esboçado no acervo doutrinário do Espiritismo, ou seja, a educação compreendida como o processo por meio do qual o espírito evolui. Isso independe da concepção religiosa do educando e de seus pais. Importa, e isso é óbvio, que os educadores dessa escola estejam imbuídos dos conceitos espíritas, encarem-se como espíritos em evolução, tenham entendimento a respeito de outras religiões e, acima de tudo, claro conhecimento da Filosofia Espírita da Educação e da Pedagogia Espírita que lhe é consequente.
Compreende-se, portanto, que a função da escola espírita, acima de qualquer transitoriedade de interesses mercantilistas ou pragmatistas, tão arraigados nas escolas de nosso tempo, é o desenvolvimento da espiritualidade de seus educandos, que inclui tudo o que denominamos valores humanos.
Para concretizar os princípios educacionais espíritas, portanto, uma escola deve seguir alguns preceitos:
- Deve ser uma escola autônoma, autêntica, criativa e afetiva, adequada ao contexto sócio-cultural em que está inserida;
- Dever-se-á dar ênfase em ações que visem a solidariedade, a cooperação, a entre-ajuda, de forma que os valores éticos sejam despertados pela ação moral que dá sentido ao esforço pelo bem comum;
- Poesia, música, literatura, pintura, desenho, escultura e até jardinagem e culinária devem fazer parte da produção dos educandos;
- Incentivo à reflexão filosófica e ao espírito científico do educando, para que ele possa ser um aprendiz permanente, nesta e noutras vidas;
- O currículo organizado de forma interdisciplinar, ou transdisciplinar, ou em rede de saberes, de forma que escape à fragmentação e descontextualização tradicionais;
- Abolição de castigos e recompensas;
- A avaliação do ser como um todo, processualmente, incluindo a auto-avaliação;
- Desenvolvimento da espiritualidade de seus educandos, fazendo-os compreender que a religiosidade é uma dimensão eminentemente humana;
- Os primeiros a viverem e exemplificarem os princípios norteadores de uma escola espírita são exatamente aqueles que a administram e o corpo docente;
- Toda a comunidade escolar deve se envolver no processo pedagógico, cada qual com o seu papel;
- Aquilo que se aplica à universidade como ensino, pesquisa e extensão, deve ser aplicado à escola espírita;
- A escola deve se abrir também para além de sua comunidade local, promovendo intercâmbios, visitas, comunicações, rede de relações pedagógicas e culturais.
Por ora, este resumo já nos traz elementos o bastante para refletirmos na viabilidade do estudo da Pedagogia Espírita e sua aplicação na escola regular.
1 – Introdução; 2 – A Proposta Educacional Espírita; 3 – A Escola Espírita
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