Depressão: causa ou efeito?

abismo_depressão

Tenho visto e lido ultimamente algumas matérias jornalísticas que trazem para o debate uma certa “tristeza generalizada” em que vive boa parte da população mundial, mais especificamente nós, ocidentais. Falam de depressão, síndrome do pânico, isolamento etc.

Recentemente, em uma matéria televisiva, o repórter conversava com dois famosos e conceituados escritores de livros de auto-ajuda (seja lá o que isso signifique!), que faziam alusão ao fato de apesar de nosso século ter produzido tantos e tantos meios de lazer, de conforto e de informação, os casos de depressão são alarmantes, talvez nunca antes registrados nessa quantidade. A conversa seguia para uma possível explicação para este paradoxo: a de que o excesso de entretenimento, vazio e superficial (desde festas despropositadas madrugada a dentro, até o consumo desenfreado de bens tecnológicos), possa ser a causa dessa epidemia de infelicidade.

Talvez tenham razão, mas eu tenho outra hipótese, que inverte essa relação de causa e efeito.

Ao longo dos séculos XIX e XX, principalmente, o materialismo foi se firmando como paradigma existencial, esvaziando paulatinamente a vida de sentido transcendental. Os costumes mudaram, o núcleo familiar mudou, as relações de trabalho também. Desprovidos do apoio emocional e psicológico que encontrávamos em nossa própria espiritualidade, buscamos outros suportes; desprovidos do que nos preenchia de significado a vida, procuramos outros sentidos. Iludimo-nos com rasas filosofias hedonistas, e narcisicamente caímos no lago de nossos prantos, formado no buraco que cavamos, desesperados pelo que quer que nos devolvesse a razão de viver, imediatistas esquecidos da função terapêutica do tempo.

Os excessos, porque nunca nos saciamos de fato, se fizeram naturais, e a desilusão não tardou.

Enfim, penso que o entretenimento em demasia, a busca desenfreada por novidades, o desajuste da autoafirmação sem autoconhecimento, a desconsideração pelo tempo, não são causas de tristeza; são o efeito (ainda que causem mais tristeza – o negócio é uma bola de neve!). A causa é ainda anterior: a visão da vida unicamente do ponto de vista material.

Somos seres de relação, vivemos uns com os outros numa rede de interdependência, e temos carências que são puramente espirituais (emocionais, sentimentais, afetivas). Mas muitos de nós ainda acreditamos que é possível ser feliz sozinho, e por isso buscamos satisfazer unicamente a nós mesmos, por meios unicamente materiais. Ilusão! Não podemos alijar de nós a nossa transcendentalidade, a nossa espiritualidade. E quando falo em espiritualidade, não me refiro a nenhuma “forma” religiosa específica, refiro-me em ter de si para consigo mesmo a profunda convicção de ser um ser espiritual, e de haver uma consciência superior acima das nossas, inteligência suprema do universo.

espiritualidade_antídoto

O cultivo dessa espiritualidade, que se concretiza no respeito aos semelhantes, no cuidado com seu entorno, no amor pela vida, no “senso de coletividade” (pretendo escrever sobre isso ainda!), é um antídoto para a depressão e o sentimento de isolamento. Funcionam melhor que Prozac!

No mais, acredito que o paradoxo da vida moderna não está na relação entre formas de entretenimento e proliferação da depressão (até porque o lazer, o conforto e as informações nos são imprescindíveis), mas em querer-se suprir necessidades espirituais com paliativos materiais.

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