Em suas viagens pelas agremiações espiritistas da França, Kardec fora interpelado sobre as contendas envolvendo os dirigentes e frequentadores das instituições daquele país. De que lado ficar? A quem dar razão?
Eis a lição de um exímio pedagogo do amor:
Se, entre vós, há dissidências, causas de antagonismos, se os grupos que devem todos marchar para um objetivo comum, estiverem divididos, eu o lamento, sem me preocupar com as causas, sem examinar quem cometeu os primeiros erros e me coloco, sem hesitar, do lado daquele que tiver mais caridade, isto é, mais abnegação e verdadeira humildade, pois aquele a quem falta a caridade está sempre errado, assistido embora por qualquer espécie de razão, pois Deus maldiz quem diz a seu irmão: racca. (KARDEC, “Viagem Espírita em 1862”, Editora O Clarim, p. 101)
Agora paremos: usamos esse mesmo critério na hora de escolhermos nossos candidatos? Abrimos nossos ouvidos e nossos corações para esse critério da caridade? E mais, é possível aplicar esse critério em política?
Quanto às duas primeiras indagações eu só posso responder por mim, e o que posso dizer é que não, até a presente disputa. Quanto à última indagação creio que podemos tecer algumas considerações. Vamos a elas.
A caridade, ou o Amor, é uma posição existencial. Quero dizer com isso que os atos de alguém que pauta sua vida por esse caminho ressoam em todas as dimensões do seu ser: usa-se, ou deveria usar, o critério do amor para tudo. Com política não pode ser diferente.
E não falo aqui de religião, falo do mais puro amor que significa doação de si para o próximo.
Desse modo, nas últimas semanas, repararam se os candidatos estão sendo caridosos – ou amorosos – uns com os outros? Se sim, quais foram as maiores demonstrações de amor?
Vou dar uma dica que comecei a usar esses dias para identificar isso. Kardec, na pergunta 886 de O Livro dos Espíritos pergunta e obtém resposta:
Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade tal como a entendeu Jesus?
– Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas.
Qual candidato tem mais feito o bem para o outro, ou falando bem, enaltecendo possíveis virtudes do adversário? Qual tem ajudado no objetivo comum, diminuindo a si mesmo e elevando aqueles realmente responsáveis pelos projetos?
Existe indulgência dos candidatos com as imperfeições uns dos outros? Será que nós sabemos que provação é essa de exercer um cargo público? As tentações diárias e de todos os matizes? E se fossemos nós?
Da minha parte os políticos precisam, antes de tudo, de orações.
E, enfim, nos ataques que recorrentemente vemos nas televisões, existe perdão das ofensas ou por anos a fio o ressentimento político vem sendo gestado?
E nós, eleitores, somos benevolentes, indulgentes e perdoamos os candidatos da nossa antipatia?
Para finalizar proponho um exercício. (pode fazer em segredo, mas comece a se libertar do ciclo vicioso do mundo)
- Escolha o candidato que lhe cause mais antipatia.
- Elogie alguma postura digna que você achou que um candidato teve (não importa se foi aparentemente, elogie, só você vai saber).
- Lembre de um erro que ele cometeu, de uma fala infeliz, etc,. Se coloque no lugar dele. Pense em todas as pressões que ele sofre por ser uma pessoa pública e por estar em determinado grupo político. É fácil?
- Pegue uma ação dele que mais atingiu sua vida. Que prejudicou mesmo. Ofereça uma prece por ele.
Como diz o Richard:.
Beijos de luz!
Post scriptum: Isso quer dizer que Kardec nos ensina a abandonar a lógica, os programas e nossas convicções racionais? Absolutamente não! Todos esses elementos devem estar contidos na formação da nossa decisão sobre quem votar. A contribuição desse texto vem em dois sentidos: 1) Inserir mais um elemento na formação da nossa convicção, qual seja, o Amor e 2) Percebermos que muitas vezes, dependendo da situação e do grau de conflito em que chegamos, saber quem tem razão não importa se não existe amor movendo suas ações.
Post scriptum 2: Desde que comecei aqui no site, queria escrever sobre política e espiritualidade, mas nunca conseguia achar a chave de argumento para um texto que expressasse o que penso; até que começou o período eleitoral.
É um momento de intensa reflexão para mim, afinal meu trabalho lida com filosofia e teoria política todo o tempo; esse ano não está sendo diferente. Entretanto, antes me focava em comparações de propostas, ideologias partidárias, práticas de governança, etc,. Esse ano algo mudou.
Mudou porque provavelmente eu mudei e devo isso a esse texto de Allan Kardec.
Muito interessante este comentario, alias oportuno, logico, coerente, doutrinario, e politicamente correto.com certeza este criterio abre portas para nossa compreensão. Parabens. obrigada
CurtirCurtir