Apesar da recente declaração de incompetência de nosso atual Ministro da Educação (aqui, aqui, aqui, aqui também, e mais aqui), há flores no caminho…
Há pouco menos de um mês, eu escrevia sobre momentos históricos que poderíamos nos lembrar em 2014 e 2015. Um desses momentos citados foi exatamente o início do Regime Militar ditatorial que se dilatou por 21 anos e atrasou nossa educação em meio século.
O Regime ceifou ideias pedagógicas que já haviam florescido e começavam a apresentar verdes frutos… tudo jogado na lata do lixo! Acredito que não há espaço para que isso aconteça novamente, apesar da nulidade do Planalto atualmente neste assunto, Educação. Mas o certo é que ideias novas nunca deixaram de pipocar aqui e ali. Após a redemocratização do país, várias vozes se fizeram ouvir no campo educacional, umas novas, outras antigas. Uma dessas vozes era a de Rubem Alves, para quem já gravamos um episódio do Os Omni Ô!.
Lembrei-me dele essa semana, porque li uma carta aberta escrita pelo professor José Pacheco em sua homenagem, publicada no Portal Aprendiz no dia 30 de janeiro desse ano. Transcrevo abaixo um trechinho:
A tua obra – extensa, diversificada, pautada numa complexa simplicidade – suscita múltiplas leituras. A tua visão sobre o Brasil das escolas instigou-me a penetrar mais fundo em contraditórias realidades, observadas por um desarmado olhar europeu, que se surpreendia perante o ostracismo a que alguns pedagogos brasileiros são remetidos. Deste-me a conhecer facetas inesperadas de um Freire, sobre cuja integração numa ortodoxa universidade redigiste um “não-parecer”. Como ele, sofreste o exílio, no período negro dos governos militares, que marcou o desaparecimento das escolas vocacionais e de outros projetos, que poderiam alçar a educação brasileira ao nível da excelência.
Sei que te fará feliz o saber que uma nova geração de educadores emerge, operando rupturas e não prescindindo do património que tu e outros pedagogos nos legaram. Valeu a pena teres vivido “na contramão da História”, aprendendo a surfar o dilúvio de lixo educacional em que a sociedade e a escola se afundaram. Valeu a pena viver a sina de “romântico-conspirador”, pois confirmaste a existência de seres (que o Brecht diria serem indispensáveis), numa carta, de que ouso transcrever um pequeno excerto: “O bom é sentir que a ‘pia conspiratio‘ é muito maior do que se imagina. Há milhares de irmãos e irmãs desconhecidos sonhando o mesmo sonho”.
(…)
Requiescat in pace, amigo Rubem. E, se o teu estatuto de pastor presbiteriano te confere crédito junto do Pai, pede misericórdia para as crianças do Brasil e o perdão para os nossos governantes.
Naquele mesmo texto de um mês atrás, eu também comentava sobre minhas esperanças para os próximos anos (ou décadas), porque também acredito que “Há milhares de irmãos e irmãs desconhecidos sonhando o mesmo sonho“, e me animei ainda mais essa semana quando li uma matéria do Porvir, intitulada “Tendências da Educação Brasileira até 2017“, que aposta na melhoria da educação por meio do uso de tecnologias educacionais. Aliás, esse é um resumo de uma matéria anterior, de 2012, sobre quais são essas tendências. Vale ler, mas transcrevo aqui o infográfico:
Entretanto, o que considero mais importante não é tanto o uso de tecnologias, mas o modo como elas nos fazem perceber com mais clareza a caduquice de nosso sistema educacional. Aliás, nos faz perceber o quanto a maior parte das escolas se encontra ainda distante da Sociedade em Rede na qual estamos mergulhados (e parte dessa rede é de verdadeiros românticos conspiradores animados em alavancar a educação brasileira). Recomendo ao leitor ou à leitora que se interesse pela temática (sociedade em rede, inteligência coletiva, tecnologias educacionais etc.), uma leitura de obras ou artigos do filósofo Pierre Lévy e do sociólogo Manuel Castells (aliás, existem excelentes vídeos no YouTube desses camaradas!).
Aliando o uso consciente de tecnologias educacionais com ideias pedagógicas como as de um José Pacheco e um Rubem Alves (citando apenas dois exemplos de pensadores/executores com os pés no chão e a cabeça nas estrelas), não vejo empecilhos à uma radical mudança na educação brasileira, salvo as cabeças duras, enterradas no subsolo da preguiça mental e com os pés presos no emaranhado lodoso do mangue do comodismo.
Leia também:
Pingback: Esperanças renovadas para a Educação |·
Pingback: Esperanças renovadas para a Educação |·
Pingback: 2015 e Nossas Possibilidades Educacionais (parte 3) |·
Pingback: 2015 e Nossas Possibilidades Educacionais (parte 1) |·